AngraOne: “Joguei com metade da tela do celular”

Jungler do Cruzeiro disputou a Qualificatória Aberta para o Wild Tour 2022 com a tela do smartphone quebrado

Foto: Bruno Alvares/Riot Games Brasil

David "AngraOne" Senn, Jungler do Cruzeiro no Wild Tour, sempre quis estar no meio dos esportes eletrônicos. Desde a infância em Santo André, cidade da Grande São Paulo, sua forma de se conectar consigo mesmo era através dos jogos. E foi por meio deles que sua vida mudou.

No entanto, AngraOne precisou enfrentar muitas barreiras até conquistar a vaga na competição, inclusive uma limitação técnica que exigiu um esforço quase sobre-humano.

“Joguei a fase classificatória para o torneio só com metade da tela do celular funcionando. Eu, literalmente, joguei sem conseguir ver o mini mapa”, contou.

Ninguém do Cruzeiro sabia do problema que o Jungler enfrentava até as Qualificatórias Abertas do torneio. David lidava com problemas pessoais e financeiros naquele período, mas tinha vergonha de se abrir com os companheiros, principalmente às vésperas da fase qualificatória. Todos jogavam remotamente.

“Eu não tinha condições de comprar outro aparelho, mas não queria que ninguém soubesse, porque na minha cabeça aquilo era um problema meu. Sempre fui muito fechado. Além disso, precisava muito do dinheiro, e fiquei com medo de me mandarem embora”, disse.

“Na metade do qualify, teve um ponto em que eu precisei pedir a ajuda do Dhoko. Falei: ‘Me avisa se algum inimigo estivesse no topo, porque eu não consigo ver o mini mapa’. Precisei contar a verdade para não prejudicar o time. Se não fosse a necessidade, não teria contado.”

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AngraOne (à esquerda), Akihito (direita) e One (agachado) - Foto: Cesar Galeão/Riot Games Brasil


Perdido na Selva (e sem mapa)

AngraOne passou por organizações importantes dos esports jogando outros MOBAs. Porém, a grande chance de ter projeção nacional apareceu com o lançamento do Wild Rift, em 2021.

Contratado pelo Flamengo para jogar na Rota Solo, logo no início do cenário, ele sabia que tinha potencial para se destacar. O potencial foi interrompido quando um evento cotidiano aconteceu, daqueles que acontecem com todo mundo que tem um smartphone: a tela quebrou quando o aparelho caiu no chão.

“Estava em uma festa na casa de um amigo meu, quando pediram meu celular para colocar música na caixinha de som. Até aí tudo bem. Mas, por causa de algum mau jeito, meu celular ‘aprendeu a voar’. Assim que ele caiu no chão, quebrou metade da tela”, relembrou.

“Não tive muito o que fazer, e aquilo me deixou muito mal. Foi aí que eu pedi para sair do Flamengo.”

Durante três meses, AngraOne ficou longe do Wild Rift. A frustração tirava a sua vontade de treinar e de seguir o sonho, mas os amigos seguraram a barra.

“Se não fosse por eles, eu teria desistido. Além de tudo, a tela quebrada não ficou preta, ficou com uma luz verde muito forte, que afetava a minha visão. Os meus amigos me deram muita força. Quando eu resolvi voltar, não podia jogar na Rota do Barão, então voltei de Jungler”, relembrou.


“Tive que aprender a jogar na Selva, sem mapa.”

Alguns meses depois, a oportunidade de fazer um teste no Cruzeiro surgiu, e AngraOne foi selecionado. O que ele não esperava é que a recepção calorosa do grupo, logo de início, se estenderia para o momento em que ele precisasse revelar a situação envolvendo o smartphone.

“Quando eles souberam, na hora o manager me procurou para me ajudar. Todo mundo me deu apoio, já providenciaram um celular para me mandar antes mesmo de irmos para a GH. Bom, naquele momento senti que podia contar com o meu time para tudo”, afirmou.


O sonho é possível

Atravessar o obstáculo técnico não foi nada fácil, mas nem de longe foi a coisa mais difícil que David, o cara por trás do nick, viveu. De origem humilde e, vendo os esforços da mãe, Maria, que o sustentava sem ajuda, ele começou a trabalhar aos 14 anos.

Naquela época, o jogador já conhecia o League of Legends, mas eram raras as oportunidades para jogar, por ele não ter um computador em casa. A diferença de valores entre comprar um PC ou um smartphone era grande.

Com o passar do tempo, além de ajudar nos boletos, AngraOne conseguiu comprar um celular. O smartphone não era nada sofisticado, mas foi o que permitiu que ele entrasse no universo dos games multiplayer de cabeça, abrindo a possibilidade de ter uma carreira nos esports.

“Desde que eu me tornei pro player, sempre ajudei a minha mãe. Tudo o que eu recebia, sempre mandava uma parte para ela. Hoje, as coisas estão melhores, e eu consigo ajudar mais”, disse.

“O fato de eu estar em uma equipe como o Cruzeiro, jogando um torneio oficial, mostra que o sonho é possível, sabe? O fato de eu contar a minha história é para inspirar as pessoas mesmo. ‘Poxa, se o cara conseguiu chegar lá com metade da tela, por que eu não vou conseguir?’. É isso que eu quero”, concluiu.


Trajetória no Wild Tour

No Grupo B da competição, o Cruzeiro ainda tenta encontrar um caminho para embalar vitórias e alcançar a zona de classificação para a Fase Eliminatória. O próximo compromisso da equipe, na sexta-feira (11), às 19h, é diante da Los Grandes, segunda colocada da tabela.

Acompanhe AngraOne e seu sonho ao vivo no Wild Tour nos seguintes canais: Twitch, TikTok, Nimo TV e YouTube. Siga também o @WildTourBR no Twitter e no Instagram para não perder as atualizações do campeonato.

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